Faz hoje um ano que chegámos a Tirana! É verdade, já passou um ano desde que iniciámos esta aventura por terras albanesas e por isso é tempo de balanço e avaliação.
Primeiro, a ansiedade invadiu os nossos corações e pensamentos. Viver na Albânia por dois anos não foi planeado, não estava previsto e, para dizer a verdade, no início, quando a decisão foi tomada. muitas dúvidas e questões pairavam nas nossas cabeças: que tipo de país iríamos encontrar? que sociedade encontraríamos? como seriam as condições de vida (pessoais e profissionais)? como seriam os albaneses? como nos adaptaríamos?
Foi mais fácil do que imaginámos. O país está a desenvolver-se, a modernizar-se e a progredir em várias áreas, apesar dos seus imensos problemas políticos, sociais, económicos, ambientais e culturais. Da surpresa inicial passámos a ter uma compreensão de algumas práticas, de certos comportamentos e de muitos problemas.
O caótico trânsito, revelando um enorme desrepeito pelos peões e condutores, o desprezo pelo ambiente e a corrupção endémica são talvez os aspetos mais visíveis do caminho a percorrer por este país. Mas, por outro lado, o imenso progresso feito nestes 20 anos de transição - do mais fechado regime comunista da Europa de leste para uma incipiente democracia - não pode ser de modo nenhum ignorado.
As perplexidades são diárias: os contrastes sociais são muito evidentes, a falta de cultura democrática e as diferenças geracionais são marcos da sociedade albanesa. Os políticos e a política por aqui revelam traços de totalitarismo, baseados num Estado altamente centralizado e condicionado pelas pertenças político-partidárias, num nível sem paralelo em países da União Europeia, e até mesmo de outros países do leste europeu. Um Estado que se mostra forte e que todos os dias revela a sua fraqueza e falta de autoridade.
Talvez a ausência de 'respeito' pelos outros, seja a marca mais negativa das relações sociais, evidenciada no modo como conduzem, na falta de transparência entre setores público e privado, na perspetiva do enriquecimento fácil e da aparência artificial das marcas que marcam o status quo...
Mas, os sinais de mudança sao também muito evidentes: as novas gerações são 'europeias' em todas as suas práticas - falam inglês, grego e italiano (às vezes, alemão e espanhol); são jovens com ambições por um futuro coletivo e individual melhor; não aceitam as diferenças gritantes entre homens e mulheres que subsistem entre os mais velhos e mais pobres; partilham valores cosmopolitas e de abertura aos outros. Querem viver numa outra Albânia, mas ao mesmo tempo, sentem um enorme orgulho pelas suas marcas culturais e históricas.
Metade do nosso caminho já foi percorrido e a avaliação é claramente positiva. A comunidade portuguesa cresceu neste período - já somos oito! E a hospitalidade albanesa é, sem dúvida, uma das grandes mais-valias deste desconhecido país. Por aqui ficaremos mais um ano, partilhando as angústias do que se passa em Portugal e sofrendo à distância pelos nossos amigos, familiares e compatriotas que estão a ser profundamente atingidos por essa malfadada crise... e a fazer figas para que as coisas mudem e melhorem...
Por agora, falta agradecer a quem nos tem ajudado (e muito!) a termos uma boa adaptação. Ao Ylli e à Linda (os nossos senhorios), à nossa Etleva (a THD cá de casa), à Ms. Poshka (professora do Álvaro) e restantes professores da WAT, ao Fatmir (o motorista do Ylli que está sempre à nossa disposição para ajudar na resolução dos pequenos problemas domésticos e automobilísticos), à Teuta, à Jonida e à Eriola (elementos locais da minha equipa de trabalho e precioso apoio na minha vida profissional), à Ermira (que agora está a viver em Lisboa e com quem mato saudades das coisas boas da nossa terra), ao Merci (o meu treinador) e ao professor de hidro-gym do Nobis Welness Center (onde perdemos os quilos a mais), aos senhores e senhoras do bairro que nos atendem no supermercado, na mercearia, no cabeleireiro, no barbeiro, nos cafés, nos restaurantes e no restante comércio como se nos conhecessem desde sempre...
Shume falimenderit! E que nos aturem por mais um ano...
(Muito obrigada, em albanês)
Primeiro, a ansiedade invadiu os nossos corações e pensamentos. Viver na Albânia por dois anos não foi planeado, não estava previsto e, para dizer a verdade, no início, quando a decisão foi tomada. muitas dúvidas e questões pairavam nas nossas cabeças: que tipo de país iríamos encontrar? que sociedade encontraríamos? como seriam as condições de vida (pessoais e profissionais)? como seriam os albaneses? como nos adaptaríamos?
Foi mais fácil do que imaginámos. O país está a desenvolver-se, a modernizar-se e a progredir em várias áreas, apesar dos seus imensos problemas políticos, sociais, económicos, ambientais e culturais. Da surpresa inicial passámos a ter uma compreensão de algumas práticas, de certos comportamentos e de muitos problemas.
O caótico trânsito, revelando um enorme desrepeito pelos peões e condutores, o desprezo pelo ambiente e a corrupção endémica são talvez os aspetos mais visíveis do caminho a percorrer por este país. Mas, por outro lado, o imenso progresso feito nestes 20 anos de transição - do mais fechado regime comunista da Europa de leste para uma incipiente democracia - não pode ser de modo nenhum ignorado.
As perplexidades são diárias: os contrastes sociais são muito evidentes, a falta de cultura democrática e as diferenças geracionais são marcos da sociedade albanesa. Os políticos e a política por aqui revelam traços de totalitarismo, baseados num Estado altamente centralizado e condicionado pelas pertenças político-partidárias, num nível sem paralelo em países da União Europeia, e até mesmo de outros países do leste europeu. Um Estado que se mostra forte e que todos os dias revela a sua fraqueza e falta de autoridade.
Talvez a ausência de 'respeito' pelos outros, seja a marca mais negativa das relações sociais, evidenciada no modo como conduzem, na falta de transparência entre setores público e privado, na perspetiva do enriquecimento fácil e da aparência artificial das marcas que marcam o status quo...
Mas, os sinais de mudança sao também muito evidentes: as novas gerações são 'europeias' em todas as suas práticas - falam inglês, grego e italiano (às vezes, alemão e espanhol); são jovens com ambições por um futuro coletivo e individual melhor; não aceitam as diferenças gritantes entre homens e mulheres que subsistem entre os mais velhos e mais pobres; partilham valores cosmopolitas e de abertura aos outros. Querem viver numa outra Albânia, mas ao mesmo tempo, sentem um enorme orgulho pelas suas marcas culturais e históricas.
Metade do nosso caminho já foi percorrido e a avaliação é claramente positiva. A comunidade portuguesa cresceu neste período - já somos oito! E a hospitalidade albanesa é, sem dúvida, uma das grandes mais-valias deste desconhecido país. Por aqui ficaremos mais um ano, partilhando as angústias do que se passa em Portugal e sofrendo à distância pelos nossos amigos, familiares e compatriotas que estão a ser profundamente atingidos por essa malfadada crise... e a fazer figas para que as coisas mudem e melhorem...
Por agora, falta agradecer a quem nos tem ajudado (e muito!) a termos uma boa adaptação. Ao Ylli e à Linda (os nossos senhorios), à nossa Etleva (a THD cá de casa), à Ms. Poshka (professora do Álvaro) e restantes professores da WAT, ao Fatmir (o motorista do Ylli que está sempre à nossa disposição para ajudar na resolução dos pequenos problemas domésticos e automobilísticos), à Teuta, à Jonida e à Eriola (elementos locais da minha equipa de trabalho e precioso apoio na minha vida profissional), à Ermira (que agora está a viver em Lisboa e com quem mato saudades das coisas boas da nossa terra), ao Merci (o meu treinador) e ao professor de hidro-gym do Nobis Welness Center (onde perdemos os quilos a mais), aos senhores e senhoras do bairro que nos atendem no supermercado, na mercearia, no cabeleireiro, no barbeiro, nos cafés, nos restaurantes e no restante comércio como se nos conhecessem desde sempre...
Shume falimenderit! E que nos aturem por mais um ano...
(Muito obrigada, em albanês)